Ansiedade de desempenho

Neste primeiro artigo, quero falar sobre como a filosofia pode ajudá-lo a superar um estado de espírito que geralmente ocorre quando se enfrenta um desafio ou uma mudança: a ansiedade de desempenho.
Imagine que você acabou de começar em um novo emprego ou que lhe pediram para assumir uma nova responsabilidade. Você está feliz, é uma oportunidade importante para sua carreira e sente que seu trabalho árduo finalmente foi recompensado. Entretanto, após a alegria inicial, você começa a se preocupar: pensa no que os outros esperam de você, quer ter certeza de que todos estão satisfeitos com seu desempenho. Cada crítica ou erro é visto como um retrocesso, afastando-o da trajetória correta.
Embora esses sejam pensamentos comuns e totalmente compreensíveis, é prejudicial basear sua carreira e sua vida em geral nessas suposições. Elas podem funcionar no curto prazo, mas, no longo prazo, você acaba se sentindo constantemente ansioso, esgotado e sem o controle da sua vida.
A teoria adleriana pode nos ajudar a desarmar essa forma de pensar.
Alfred Adler foi um psicólogo austríaco que viveu na virada dos séculos XIX e XX e é considerado o fundador da psicologia individual.
Hoje, quero me concentrar em dois princípios que podem nos ajudar a viver melhor a vida, no trabalho e fora dele.

Não viva para agradar aos outros
Quando nos relacionamos com alguém que respeitamos, ou em contextos sociais que consideramos importantes, queremos nos sentir adequados. Queremos sentir que há sintonia com o outro, que estamos indo bem, que somos apreciados. Esse desejo é legítimo, desde que não se transforme na necessidade de agradar aos outros a todo custo.
Adler nos ensina que a busca pela aprovação dos outros nos afasta de nós mesmos e nos leva a viver uma vida que alguém mais desenhou para nós.
Para não cair nessa armadilha, sempre que nos é pedido para fazer algo ou estamos diante de uma escolha, devemos entender quais são as nossas tarefas e nos preocuparmos apenas com elas, sem assumir as dos outros.
Como podemos entender quais são nossas tarefas e quais não são? Devemos pensar em quem, em última análise, se beneficiará dos resultados da ação em questão. É nossa responsabilidade escolher o que acreditamos ser melhor para nós; é responsabilidade dos outros decidir como reagir às nossas escolhas, e isso é algo sobre o qual não temos influência.
Vamos imaginar que o seu gerente lhe ofereça uma nova posição: é uma significativa promoção na carreira, mas em um campo que não lhe interessa. Você fala sobre isso com seus amigos ou pais, que dizem que você seria louco de não aproveitar uma oportunidade dessas, e que há pessoas que dariam tudo para ter a mesma chance. Seu gerente mesmo confia que conta muito com você e que você é a escolha perfeita para essa posição. Ao mesmo tempo, porém, você sente que não quer esse papel: o campo não lhe interessa e o afastaria de um aspecto do seu trabalho atual que você gosta. Decidir o que é melhor para você é sua responsabilidade; assumir a eventual decepção dos outros não é.
Agradar ao próximo não faz parte das nossas tarefas, e é por isso que, quando o fazemos, nos sentimos ansiosos e sobrecarregados com uma responsabilidade maior do que nós. Cuidar apenas das tarefas que nos dizem respeito nos permite viver de acordo com nossas prioridades e viver tranquilamente com as consequências de nossas ações.
Aceitar o fato de que podemos desapontar ou entristecer as pessoas próximas a nós é a única maneira de viver plenamente em nossa liberdade.

Viva no presente
É comum pensar na própria vida como uma linha reta: o presente é o ponto em que nos encontramos hoje, atrás de nós está o passado e à nossa frente está o futuro, ao qual aspiramos. De acordo com esse esquema, acreditamos que nossas escolhas passadas e presentes determinam irremediavelmente o futuro, o momento em que poderemos desfrutar dos frutos pelos quais trabalhamos.
No entanto, é correto pensar que nossas ações têm repercussões em nossas vidas, mas é prejudicial viver nossas experiências passadas e presentes como necessariamente preparatórias para o futuro.
Esse pensamento nos leva a viver em um estado de ansiedade constante em relação ao que poderia acontecer, a pensar em como cada escolha que fazemos deve ser a certa, sob pena de nos desviarmos do curso perfeito que nossa vida deve ter.
Adler sugere, em vez disso, pensarmos em nossa vida como uma série de momentos que inevitavelmente vivemos no presente. O presente é o único momento que podemos viver e, como tal, é o único que vale a pena focar.
Focar no presente nos permite fazer escolhas conscientes, ditadas pelo que somos, em vez das expectativas que colocamos para o futuro. Ouvir nosso eu presente nos ajuda a entender nossos desejos, nossas necessidades, o que nos faz felizes, e nos impede de tomar decisões com base em um futuro hipotético ao qual tendemos, para o qual já encaixamos cada escolha ou evento como certo ou errado.
Por exemplo, imaginemos que seu gerente peça para você trabalhar em um novo projeto. Vocês se esforçam muito, dedicam ao projeto o tempo e a concentração necessários, mas no final, seu gerente fica insatisfeito e expressa decepção com seu trabalho. Se pensarem na vida de vocês de forma linear, só poderão ver esse evento como um grande fracasso, um obstáculo entre vocês e o caminho para o sucesso. Em vez disso, pensando na vida como uma série de momentos, interpretarão esse evento como uma experiência na qual aprenderam algo sobre vocês mesmos, sobre seu trabalho ou sobre como abordar seu gerente.
Vamos tentar pensar na carreira e em nossa vida não como uma linha que aponta para uma direção predefinida, mas como uma série de momentos presentes: não sabemos para onde estamos indo, mas vivemos cada momento com responsabilidade e conscientes de nós mesmos. Esse enfoque nos ajuda a estar abertos à mudança, em vez de nos vermos encaixados em uma vida com um final já escrito. Isso nos ajuda a viver cada experiência como uma oportunidade para nos conhecer, em vez de como um momento que nos aproxima ou nos afasta do nosso ideal predefinido.
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